EXCLUSIVO: Jean Silva - O Campeão de MMA da Paraíba

02/02/2012 17:10

 

Quando você conhece o paraibano campeão de MMA - Mixed Martial Arts - Jean Silva, ídolo na Inglaterra e um dos atletas brasileiros mais talentosos da categoria leve (até 70 kg), o primeiro pensamento que você vai ter é: que cara humilde! Esse herói dos tatames, o “Urso branco" como é conhecido internacionalmente, tem mais de quarenta lutas no currículo, é o único lutador pentacampeão pela categoria britânica “Cage Rage” e se orgulha de poder guardar o cinturão em sua casa.
 
Depois de uma longa temporada com os gringos, volta a João Pessoa e administra uma carreira de sucesso como empresário e técnico de MMA, treinando novos atletas e amantes do esporte. Jean Silva é um verdadeiro guerreiro, enfrentou inúmeros desafios ao longo da carreira, de origem humilde, nunca desistiu de seus sonhos e hoje é admirado dentro e fora dos ringues. Ele é um atleta diferenciado, religioso, tem em sua família seu ponto de equilíbrio. Um cidadão pacato e cercado de amigos. É descrito pelos alunos como um verdadeiro mestre.
 
O lutador sente-se frustrado de não estar em constante atividade devido à falta de patrocínio. Capaz de atrair grandes públicos para suas lutas, já se apresentou para 60 mil torcedores na Copa do Mundo de vale- tudo no Japão – o “PRIDE”, não entende a falta de apoio de nossos governantes e empresários que ainda não enxergaram a força do MMA e dos atletas aqui na Paraíba. Em Janeiro de 2011 Jean Silva protagonizou um verdadeiro show no ginásio Ronaldão, com apoio eletrizante de mais de seis mil expectadores que gritavam seu nome.Com um currículo invejável, recebeu proposta de estrear um reality show na Rede Globo no final do ano passado, mas recusou para acompanhar de perto o nascimento de seu segundo filho. 
 
Como repórter e fã do esporte, “tiro o chapéu” a esse cara que vem transformando a realidade de vários jovens que não teriam acesso ao esporte. Jean faz parte de um projeto social na cidade de Campina Grande, onde ajuda menores abandonados a largarem as drogas e saírem das ruas. Através do esporte e da filosofia das artes marciais vem salvando a vida de mais de duzentos jovens.
Sem papas na língua, concedeu ao portal CONEXÃO PB uma entrevista exclusiva:
 
CP: Como e quando você começou a treinar, e qual foi a arte marcial?
 
JS: Comecei em Campina Grande aos 13 anos no judô, com o professor Fialho.
 
CP: Quando e por que migrou para o MMA?
 
Jean Silva: Em 91, mais ou menos quando surgiu o MMA, eu peguei a primeira fita cassete pra assistir e já comecei a ver futuro nesse esporte, como eu já gostava de artes marciais, comecei a praticar outras modalidades e, conseqüentemente, migrei para o MMA, que até então não era tão explorado como é hoje.
 
CP: O esporte antes era chamado de vale-tudo. Você começou nessa época ou já era MMA?
 
JS: Eu comecei no vale-tudo em 1999, quando eu fiz minha primeira luta. Na época valia tudo mesmo, inclusive não tinha categoria de peso e nem tampouco luvas.
 
CP: Quais são as artes marciais mais utilizadas por um lutador de MMA? E qual você considera a mais essencial?
 
JS: Todas são essenciais, mas a que a gente dá maior prioridade, hoje em dia, é o wrestling, que é a parte de quedas, por que ele é o intermédio do jiu-jitsu para o muay thai .
 
CP: Você começou na Capoeira, mas hoje, qual a sua especialidade? Qual a que você se considera temido pelos seus adversários?
 
JS: A capoeira me ajudou muito, foi uma das modalidades que eu treinei por mais tempo, ela me trouxe uma certa confiança, até porque a capoeira era de rua, e isso já trazia mais confiança. E eu gosto muito de “trocação” em cima, eu acho mais legal, até porque proporciona um melhor show para o público.
 
CP: No passado, o lutador de vale-tudo era muito discriminado. Era tido como baderneiro, e o MMA era confundido com briga de rua. Você viveu esse momento? Quando começou a mudança de percepção?
 
JS: Eu vivi esse momento, e realmente teve uma mudança bem grande. A gente, inclusive, nem poderia estar falando e nem tampouco procurar patrocínio dizendo que ia fazer essa modalidade, que era mal visto. E hoje em dia é o contrário, quando a gente fala nas ruas, em certos ambientes comerciais ou em restaurantes, a gente muitas vezes nem a conta paga. Hoje o pessoal idolatra muito, é o segundo maior esporte no mundo e no Brasil.
 
CP: Você morou na Inglaterra, e por lá fez muitos fãs e uma carreira vitoriosa, com muitos títulos. Mas queríamos saber se você, por ser brasileiro, nordestino e paraibano sofreu algum tipo de preconceito?
 
JS: Sem dúvida, sofri preconceito. Não pelos ingleses, por que pra eles Brasil é Brasil, mas pelos brasileiros que moravam lá, que eram do Sul, e eu morei em Curitiba também, passei por muita discriminação.
 
CP: Poderia relatar algum tipo de preconceito que você sofreu?
 
JS: Eu nunca neguei a minha origem, e meu jeito de falar, meu sotaque, eu nunca deixei. Quando chegava em festas ou pra conversar com empresários, o pessoal se ligava no sotaque e começava  a dar risada ou até mesmo a se afastar de mim.
 
CP: Isso já prejudicou suas lutas, seus prêmios?
 
JS: Não, isso aí é o contrário. Nessas horas você fica até um pouco chateado. É aquela história: você só vale o que tem, e quando eles sabiam que eu era o campeão, o tratamento era totalmente diferente, independente de sotaque ou de onde eu era.
 
CP: Conte para o Portal, qual a sensação de ganhar um título internacional?
 
JS: Eu acho que foi uma emoção que posso comparar com o nascimento do meu primeiro filho. Eu acredito que foi a mesma emoção, foi muito, muito, muito bom! Eu não esqueço nunca. Foi um dos dias mais felizes da minha vida quando eu ganhei o primeiro título. Depois pra manter foi doloroso, mas consegui ainda segurar por três anos, e a tristeza também foi grande quando eu perdi. 
 
CP: Com os eventos do UFC vindo para o Brasil, canais exclusivos de lutas, a Rede Globo começando a transmitir e a TV aberta dando total aval para o esporte, como você vê essa popularização do MMA no Brasil?
 
 
JS: Isso é muito bom para o esporte. Desde que eu comecei a me dedicar ao MMA, eu já sabia que isso ia acontecer, só não esperava que fosse demorar tanto tempo. Infelizmente eu não estou atuando como lutador nessa nova geração, onde o esporte explodiu de tal forma que toda criança sabe o que é o esporte. Eu vejo esse crescimento aqui na própria academia onde eu dou aula, a procura pelo esporte, as vantagens que o esporte traz. É nítido o que a gente vê nas lojas, nos outdoors, o próximo filme do Anderson Silva que vai estar em cartaz logo-logo. O pessoal está começando a respirar mesmo esse esporte, como já era esperado, por que é o esporte número um nos EUA, há dois anos já era, e tudo que acontece lá reflete para o Brasil e para o resto do mundo.
 
CP: E na Paraíba? Percebo que faltam eventos de grande porte na região.
 
JS: Veja bem, a Paraíba sempre esteve atrás de todos os estados do Brasil, em relação a tudo. E isso pode ser uma vantagem em certas coisas, por que a gente pode fazer o que é certo onde os outros estados erraram. Espero que isso possa acontecer. Alguns estados fazem eventos muito amadores. Espero que a Paraíba possa perceber isso e quando decidirem fazer eventos aqui, façam coisas que possam alavancar não só o esporte, mas principalmente os atletas que treinam aqui, pois são grandes os talentos que temos, e só precisam de uma oportunidade pra se destacarem a nível nacional e internacional.
 
CP: Falta apoio dos empresários?
 
JS: Sem dúvida. A gente tentou promover um evento de grande porte aqui este ano, mas encontrou muita dificuldade, inclusive, até mesmo, do governo.
 
CP: Você falou que existem muitos atletas no estado. Pode citar algum nome de destaque, que você considera promissor no esporte?
 
JS: Isso é fácil de falar, por que temos dezenas de atletas, muitos que já estão se destacando a nível internacional, que já ganham super bem por luta, temos o Antonio Pezão, o Mário Sucata, o Junior “Buscapé”. E tem aqueles que vêm treinando pra chegar a esse nível. São grandes os nomes, tem o Toninho “Fúria” de Campina Grande, o Kel, que é o irmão dele, são pessoas que logo a gente vai ver no cenário nacional e internacional.
 
CP: Sabemos que você tem um projeto em Campina Grande onde você ajuda a menores. Através do seu esporte você está tirando muitas crianças da marginalidade.
 
JS: Na verdade é um projeto que começou com uma igreja chamada Bola de Neve, com o Pastor Robson, e eu sou um dos colaboradores. Sempre que eu posso, dôo um pouco do meu tempo, inclusive incentivo isso pros meus alunos e amigos. Acho super importante a gente doar um pouco do nosso tempo pra ajudar aqueles que necessitam. Essas pessoas ficam internas lá, são dependentes químicos. Sempre que posso eu marco presença, vou lá, dou uma palavra, converso com eles, escuto o testemunho de cada um, ministro aulas pra ajudar na desintoxicação. Se cada um pudesse fazer um pouco, ia ajudar muito na nossa sociedade.
 
CP: E você, quando volta ao octógono, para a alegria dos seus fãs?
 
JS: No último evento que eu participei, em Janeiro de 2011, o resultado foi maravilhoso. Eu lutei aqui mesmo na cidade. Dizem que santo de casa não faz milagre, mas isso aí é mito (risos). Nós colocamos seis mil pessoas no ginásio. Foi emocionante ver a galera gritando o meu nome. E eu estou trabalhando pra isso. Todo dia eu faço o meu treino e assim que a gente tiver um evento de porte, que os empresários puderem olhar para o esporte e quererem ajudar, a gente logo logo vai promover um evento a nível nacional, e eu quero estar lutando, não quero deixar essa galera desamparada. Tem outros atletas, mas eu gosto de lutar para o público.
 
 
CP: Na sua academia você está com um novo projeto, o de MMA executivo. O que pudemos perceber, assistindo alguns treinos, é que as aulas estão sempre lotadas. É um sonho antigo que você está realizando? 
 
JS: Sem dúvida. Há quatro anos quando eu falava nesse tipo de aula as pessoas tinham medo. Pessoas ligadas às artes marciais diziam: “Não tem como você dar aula de MMA, ou você dá aula de jiu-jitsu, ou aula de muay thai, separado”. E eu acreditei que isso poderia ser feito, uma aula onde teria todas as modalidades juntas. Eu fico muito feliz quando vejo: pai e filho treinando, juntos, pessoas que tinham a vida sedentária, amantes do esporte, pessoas de todos os níveis, todas as idades, treinando num só ritmo, isso é muito interessante.
 
Danuza Galiza - Exclusivo